domingo, 27 de março de 2011

BIOGRAFIA DE GONÇALVES DE MAGALHÃES

Gonçalves de Magalhães


Nascimento :13 de agosto de 1811 , Rio de Janeiro  
Morte :10 de julho de 1882 (70 anos),Roma
Nacionalidade :Brasileiro
Ocupação :Médico, professor, diplomata, político, poeta e ensaísta
Magnum opus(Melhor obra): Suspiros Poéticos e Saudades
Escola/tradição :Romantismo

Domingos José Gonçalves de Magalhães, primeiro e único barão e depois visconde do Araguaia (Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1811 — Roma, 10 de julho de 1882), foi um médico, professor, diplomata, político, poeta e ensaísta brasileiro, tendo participado de missões diplomáticas na França, Itália, Vaticano, Argentina, Uruguai e Paraguai, além de ter representado a província do Rio Grande do Sul na sexta Assembleia Geral.
Filho de Pedro Gonçalves de Magalhães Chaves.
Morreu em Roma, onde exercia cargos diplomáticos junto à Santa Sé, no ano de 1882.
Ingressou em 1828 no curso de medicina, diplomando-se em 1832. No mesmo ano estreou com "Poesias" e, no ano seguinte, parte para a Europa, com a intenção de se aperfeiçoar em medicina.
Em 1838 é nomeado professor de Filosofia do Colégio Pedro II, tendo lecionado por pouco tempo.
De 1838 a 1841 foi secretário de Caxias no Maranhão e de 1842 a 1846 no Rio Grande do Sul. Em 1847 entrou para a carreira diplomática brasileira. Foi Encarregado de Negócios nas Duas Sicílias, no Piemonte, na Rússia e na Espanha; ministro residente na Áustria; ministro dos Estados Unidos, Argentina e na Santa Sé, onde morreu.

Títulos nobiliárquicos e honrarias

Comendador da Imperial Ordem de Cristo e da Ordem de São Francisco I de Nápoles, dignitário da Imperial Ordem da Rosa e oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro.
Barão do Araguaia
Título conferido por decreto imperial em 17 de julho de 1872. Faz referência ao rio Araguaia, que em tupi significa rio do vale dos papagaios.
Visconde do Araguaia
Título conferido por decreto imperial em 12 de agosto de 1874.
Foi pai de Antônio José Gonçalves de Magalhães de Araguaia, nascido cerca de 1858, que recebeu o título de "Conde de Araguaia", concedido pela Santa Sé.

 Gonçalves de Magalhães e o Romantismo

Recém-formado em Medicina, viaja para a Europa, onde entra em contato com as ideias românticas, fator essencial para a introdução do movimento no Brasil.
Sua importância está no fato de ter sido o introdutor do Romantismo no Brasil, não obstante suas obras serem consideradas fracas pela crítica literária. Embora fosse voltado para a poesia religiosa, como fica claro em Suspiros poéticos e saudades, também cultivou a poesia indianista de caráter nacionalista, como no poema épico A Confederação dos Tamoios (esta obra lhe valeu agitada polêmica com José de Alencar, relativa à visão de cada autor sobre o índio), ambas bastante fantasiosas.
Em contato com o romantismo francês, publicou em 1836 seu livro "Suspiros poéticos e saudades", cujo prefácio valeu como manifesto para o Romantismo brasileiro, sendo por isso considerado o iniciador dessa escola literária no país. Em parceria com Araújo Porto-Alegre e Torres Homem, lançou a revista "Niterói", no mesmo ano. Introduziu ali seus principais temas poéticos: as impressões dos lugares que passou, cidades tradicionais, monumentos históricos, sugestões do passado, impressões da natureza associada ao sentimento de Deus, reflexões sobre o destino de sua Pátria, sobre as paixões humanas e o efêmero da vida. Ele reafirma, dentro de um ideal religioso, que a poesia tem finalidade moralizante, capaz de ser instrumento de elevação e dignificação do ser humano, condenando o estilo mitológico.
Ao retornar ao Brasil, em 1837, é aclamado chefe da "nova escola" e volta-se para a produção teatral, que então era renovada com a produção de Martins Pena e os desempenhos de João Caetano. Escreve duas tragédias: "Antônio José" ou "O poeta e a Inquisição" (1838) e "Olgiato" (1839).
Apesar de suas ideias, várias vezes as traiu por conta de sua formação neoclássica. O poema épico "Confederação dos Tamoios" foi escrito nos moldes de O Uraguai, retornando assim ao arcadismo. Esse fato gerou grande polêmica, tendo sido atacado por José de Alencar e defendido por Monte Alverne e pelo imperador Dom Pedro II.

Psychologia e Physiologia

Segundo Massimi , D. Magalhães foi um dos precursores do ensino da psicologia no Brasil, quando essa ciência ainda se iniciava transitando entre os estudos parapsicológicos e psicopatológicos. Professor do curso “Lições de Philosophie” (1837) do Colégio Imperial Pedro II com dois livros publicados sobre o tema: “Os fatos do espírito humano” (1865) e “A alma e o cérebro, estudos de Psychologia e Physiologia” (1876), ainda segundo essa autora exemplares típicos da influência francesa de filosofia espiritualista.
No ano anterior 1875 uma tese sobre o mesmo tema foi examinada pela banca e sumariamente recusada trata-se da tese de conclusão de curso intitulada Funcções do cérebro de Domingos Guedes Cabral, tal rejeição não foi aceita pelos alunos pois que no ano seguinte imprimiu-se em livro a referida tese vinculada às teorias darwinistas. Apesar de não se ter localizado uma manifestação específica de sua posição quanto a esse acontecimento, como se tem das questões indigenistas e especificamente sobre a “Confederação dos tamoyos” é evidente que se posicionava pela impossibilidade de redução das faculdades intelectuais e morais do homem frente ao conhecimento prévio da natureza e nos animais.
Apesar do seu erro de imaginar que mesmo nas teorias sobre os múltiplos centros de decisão e pensamento de Franz Joseph Gall (1758 —1828), e outros frenologistas se anularia “ser único que em nós pensa, e que repele a anarquia de tantas forças primitivas” e que ao se tomar o estudo dos animais para melhor compreensão dos processos fisiológicos humanos no que concerne ao estudo do cérebro estaríamos negando a especificidade da consciência tida como identidade do “eu”, e ação da vontade e força motriz vital Magalhães primava pelo estudo da moral e da sociedade. A psicologia, entendida como o estudo filosófico do conhecimento do homem, e a fisiologia, o seu estudo orgânico hierarquicamente subordinados A seu ver, a frenologia endossava as teorias fatalistas, contra o livre-arbítrio, onde o homem estaria submetido “ao império do destino”, “que ora o fixa ao escolho como uma ostra inerte, ora o eleva em turbilhão como a poeira[
Massim analizando o processo de substituição do conceito de "Alma" pelo estudo do "Eu", proposta pelos espiritualistas em refutação à impossibilidade de conhecer a subjetividade identificada por téoricos organicistas, destaca a posição de Gonçalves de Magalhães de deixar de lado as causas ocultas dos fenômenos internos da mesma forma que se pode estudar os fenômenos físicos sem entrar na indagação sobre a natureza íntima da matéria.

Obras
· Suspiros poéticos e saudades (1836) - Considerada a obra inaugural do romantismo brasileiro
· Antônio José ou O poeta e a Inquisição (1839)
· Rafael alucinado na Australia (1840)
· A Confederação dos Tamoios, poema épico (1857)
· Os Mistérios de Vinícius (1857)
· Fatos do Espírito Humano, tratado filosófico (1858)
· Urânia, poesias (1862)
· Cânticos fúnebres, poesias (1864)
· “Os fatos do espírito humano” (1865)
· A alma e o cérebro, ensaios (1876)
· Comentários e pensamentos (1880)
· Takeshinho na amazonia (1881)
· Leonardo menino do rio (1881)

SUSPIROS POÉTICOS E SAUDADES
Quando da noite o véu caliginoso
Do mundo me separa,
E da terra os limites encobrindo,
Vagar deixa minha alma no infinito,
Como um subtil vapor no aéreo espaço,
Uma angélica voz misteriosa
Em torno de mim soa,
Como o som de uma frauta harmoniosa,
Que em sagradas abóbadas reboa.

Donde vem esta voz? — Não é de virgem,
Que ao prazo dado o bem-amado aguarda,
E mavioso canto aos céus envia;
Esta voz tem mais grata melodia!

Donde vem esta voz? — Não é dos Anjos,
Que leves no ar adejam,
E com hinos alegres se festejam,
Quando uma alma inocente
Deixa do barro a habitação escura,
E na sidérea altura,
Como um astro fulgente
Penetra de Adonai o aposento;
A voz que escuto tem mais triste acento.

Como d'ara turícrema se exalça
Nuvem de grato aroma que a circunda,
E lenta vai subindo
Em faixas ondeantes,
Nos ares espargindo
Partículas fragrantes,
E sobe, e sobe, até no céu perder-se,
Tal de mim esta voz parece erguer-se.

Sim, esta voz do peito meu se exala!
Esta voz é minha alma que se espraia,
É minha alma que geme, e que murmura,
Como um órgão no templo solitário;
Minha alma, que o infinito só procura,
E em suspiros de amor a seu Deus se ala.
Como surdo até hoje
Fui eu a tão angélica harmonia?
Porventura minha alma muda esteve?
Ou foram porventura meus ouvidos
Até hoje rebeldes?
Perdoa-me, oh meu Deus, eu não sabia!
Eram Anjos do céu que me inspiravam,
E outras vozes meus lábios modulavam.

Castas Virgens da Grécia,
Que os sacros bosques habitais do Pindo!
Oh Numes tão fagueiros,
Que o berço me embalastes
Com risos lisonjeiros,
Assaz a infância minha fascinastes.
Guardai os louros vossos,
Guardai-os, sim, qu'eu hoje os renuncio.
Adeus, ficções de Homero!
Deixai, deixai minha alma
Em seus novos delírios engolfar-se,
Sonhar co'as terras do seu pátrio Rio.
Só de suspiros coroar-me quero,
De saudades, de ramos de cipreste;
Só quero suspirar, gemer só quero,
E um cântico formar co'os meus suspiros;
Assim pela aura matinal vibrado
O Anemocórdio, ao ramo pendurado,
Em cada corda geme,
E a selva peja de harmonia estreme.

Já nova Musa
Meu canto inspira;
Não mais empunho
Profana lira.

Minha alma, imita
A Natureza;
Quem vencer pode
Sua beleza?

De dia, e noite
Louva o Senhor;
Canta os prodígios
Do Criador.

Tu não escutas
Esta harmonia,
Que ao trono excelso
A terra envia?

Tu não reparas
Como o mar geme,
Como entre as folhas
O vento freme?

Como a ave chora,
A ovelha muge,
O trovão brama,
O leão ruge?

Cada qual canta
Ao seu teor,
Mas louvam todos
O seu Autor.

Da grande orquestra
Aumente o brilho
O Canto humano
Da razão filho.

Minha alma, aprende,
Louva a teu Deus;
Os teus suspiros
Envia aos céus.

Oh como é belo o céu azul sem nódoa!
Que puro amor nos corações ateia,
Como a pupila de engraçada virgem,
Que serena nos olha, e nos enleia.
Mas que imagem sublime a mim se antolha,
Com largas asas brancas como o cisne,
E roçagante toga, que se ondeia
Como flocos de neve alabastrina!
Uma harpa de ouro em suas mãos sustenta!
Oh que voz suavíssima e divina!
Oh que voz, que as paixões n'alma adormenta!

Vem, oh Gênio do céu filho!
Vem, oh Anjo d'harmonia!
Cuja voz é mais suave,
Mais fragrante que a ambrosia!

Teu rosto vence em beleza
Ao sol no zênite luzente;
Teu largo manto é mais puro
Do que a lua alvinitente.

As asas, que te suspendem,
São mais ligeiras que o vento;
São mais terríveis que os raios,
Que giram no firmamento.

Tua fronte não se adorna
Com flores que o prado gera;
Sobre teus cabelos de ouro
Brilha de fogo uma esfera.

Teus pés a terra não tocam,
A teus pés a terra é dura;
Sobre aromas te equilibras
Recendentes de frescura.

O sol, a lua, as estrelas
São fanais que te iluminam,
São corpos a quem dás vida,
E ante teus passos se inclinam.

Os acordos de tua harpa
Todos os astros ecoam;
Reanima-se o Universo,
Quando as suas cordas soam.

Vem, oh Anjo, ungir meus lábios;
Traze-me uma harpa dos céus;
Ao som dela subir quero
Meus suspiros até Deus!

Quando no Oriente roxear a Aurora,
Como um purpúreo, auribordado manto,
Que ao Rei da luz o pavilhão decora,
E as saltitantes aves pelos ramos
Da madrugada o hino gorjearem,
Tua voz, oh minha alma, une a seu canto,
E as graças do Senhor cantando exora.
Quando a noite envolver a Natureza
Em tenebroso crepe; e sobre a terra
As asas desdobrar morno silêncio;
Nessas plácidas horas de repouso,
Em que tudo descansa, exceto o Oceano,
Que arqueja, e espuma em solitária praia,
Vizinhos ermos com seus ais pejando,
Como um preso que geme, e que debalde
Da prisão contra os muros se arremessa;
Tu também, como a lua, vigilante
Nessas propícias horas, oh minha alma,
Tua voz gemebunda exala, e une
À voz do Oceano, à voz d'ave noturna.

Enquanto estás sobre a terra,
Como no exílio o proscrito,
Canta como ele, que o canto
Refrigera o peito aflito.

Canta, que os Anjos te escutam,
E os Anjos à terra descem,
A escutar esses hinos,
Que para Deus almas tecem.

Canta a todos os momentos,
Canta co'a noite, e co'o dia;
E o teu derradeiro expiro
Seja ainda uma harmonia.
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Categoria: Suspiros Poéticos e Saudades

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